quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quase Trinta


Li essa crônica no site diginet, e resolvi começar meu blog com ele. Essa crônica tem muito haver com o momento que estou vivendo, momento de tranformação, no finalzinho do texto tem os créditos, não sei fazer nada direito por aqui, então se estiver errado por favor me avisem....

"A vida fica chata aos quase 30. Chatíssima. Só não digo que fica insuportável porque não quero parecer fatalista. Se ainda tivesse 20 e poucos, tudo bem, não teria o menor pudor em fazer drama. Mas tenho quase 30. Nessa idade, já perdemos o direito de não ser perfeitos.
Aliás, “nessa idade” é uma expressão tipicamente quase-trintona. Os mais velhos trabalham no pretérito (“no meu tempo era…”), os mais novos no futuro (“quando eu for…”). Nós, dessa tribo perdida no vácuo das desatenções, trabalhamos no presente. E como trabalhamos! Dez horas por dia, seis dias por semana e considere-se um bon vivant. Quem tem quase 30 já se acostumou à semana laboral de quinze dias. E no final do mês, vem aquilo que você já conhece muito bem: guardar dinheiro pra comprar um apartamento ou pagar o cartão de crédito? Nessa hora, você se pergunta como conseguia ser tão feliz aos 15, com uma mesada ridícula e a certeza de que ela duraria o mês todo. Será que cerveja e motel eram mais baratos naquele tempo?
Falei sobre um tal vácuo das desatenções. Pois é, vivemos nele, todos nós imersos no vácuo das desatenções. Responda, amigo que está quase lá, qual foi a última vez que você viu um programa social do governo voltado a sua faixa etária? Qual a última vez que você ouviu uma música pop falando sobre sua realidade? Essa é boa, essa é boa: qual a última vez que sua mãe sugeriu a você procurar um psicólogo? Na certa, você ainda tinha 17 anos, fumava escondido, ouvia Nirvana o dia todo e achava que jamais usaria uma calça social. Agora, nessa idade, ninguém mais se preocupa com você. E não pense que é porque finalmente confiam na sua figura ilibada. Tenho amigos com quase 30 que ainda fumam escondidos, ouvem Nirvana e acham que jamais usarão uma calça social. Mas agora são ignorados. Casos perdidos. As pessoas simplesmente desistiram deles. Estão mais preocupadas com os adolescentes problemáticos e os idosos da melhor idade.
O mais difícil de estar prestes a cruzar o limiar da terceira década é saber que não podemos mais usar a idade como desculpa. Esse infalível argumento foi utilizado por mim exaustivamente. Você vai acampar no Natal em vez de ficar com sua família? Qualé, pai, eu só tenho 25, tenho que aproveitar a vida! Você vai vender o computador pra comprar uma guitarra? Qualé, mãe, só tenho 26, tenho que aproveitar a vida! Você vai pedir demissão pra excursionar pela América Latina com três francesas lésbicas? Qualé… Hum, bem, não cola mais. Aliás, fica ridículo alguém de quase 30 dizendo “Qualé, pai”.
Poderia discorrer sobre uma série de outros infortúnios. Mas vou falar apenas de mais um: o sexo. Não consigo controlar a vontade de rir – e não é de felicidade. Com quase 30, a gente broxa pela primeira vez. Não há mais a pressa dos 17, nem a gana dos 20 e poucos. Não, amigo, temos quase 30. Agora, não há mais como ignorar o clitóris, ou pular as preliminares, ou gozar sozinho, ou virar, fechar os olhos e dormir. Com tanta pressão, claro, não tem tesão que resista. Bem-vindo ao mundo real.
A gente se habituou a estar em transformação, a ser outro a cada instante. E de repente, a estabilidade. Por mais que Martha Medeiros e Carlos Heitor Cony preguem que somos diferentes a cada segundo que passa, pouquíssimo em você mudará daqui pra frente. Talvez uma opinião aqui, outra ali; porém nada será mais tão radical. Este que é você ultrapassará seu trigésimo ano e será o mesmo daqui por diante. Para sempre. Como a maldição do galo que canta três vezes, lembra? Se você estiver envesgando os olhos bem na hora do seu aniversário, puff!, vai ficar vesgo pro resto da vida.
O conselho é: sinta bastante saudade de quem você foi. Muita mesmo. Chore de vez em quando lembrando das bobeiras de moleque, das inconseqüências da juventude, das burradas de quando aprendia a ser adulto. Não esquecer disso tudo vai fazer de você alguém melhor. Mais vivo, até. E só pra deixar algo bem claro: não eram três francesas lésbicas. Eram quatro."

Créditos: Patrício Junior ... http://www.patriciojr.com.br/sobre/